anjo caído / ange à terre
anjo caído, dobrado, esmiuçado,
despedaçado,
eis que você renasce
novamente, nestas carnes
cruas, duras que são as
tuas vestes, endurecidas,
alvejadas por luzes
que descrevem o teu ser etéreo
anjo caído,
debruçado, amordaçado, teu grito sai da
garganta sem poder
sair, e ele fica aí, tentando ver
a saída, mas saída
não há, ainda não, será preciso ir
até o final, até o
final disto aqui, para enxergar tudo
porque, anjo caído,
antes, fechado para o teu ser, você
emergiu das brumas,
das tramas onde você mesmo
escorregou, sem
saber, embora sabendo, com a clara
consciência rasgada
naquilo que você mesmo criou, in-
lócus, e não reconhece
mais, nestes trastes velhos de tudo
o que passou ; e que
você ousa, pela carne, ultrapassar
©
Ana Rossi
ange tombé, plié, en
miettes, en morceaux,
te voilà qui renaît à
nouveau dans la chair
crue, drue que sont
tes vestes, endurcies, et
ainsi, blanchies,
elles décrivent ton être éthéré
ange tombé, penché,
baillonné, ton cri part
de la gorge, n’en
sort pas, il y reste pour tenter
une sortie, il n’y en
a pas, pas encore, il faudra
aller jusqu’au bout, la
fin de ceci, voir ce que tu fis
parce que, ange
tombé, avant, enfermé dans ton être,
tu émergeas des
brumes, des trames où, toi-même, tu
glissas, sans savoir,
tout en le sachant, avec la claire
conscience déchirée
de ce qui fut ; ce que tu créas, ce
que tu ne reconnais
plus dans ces torchons vieillis de
tout ce qui arriva, et
que tu oses, par la chair, dépasser
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