página em branco / page blanche


poema escrito em 06 de maio de 2008, na cidade de Avignon, França.
Este poema fala do ato de escrever, eterno recomeço da página em branco, apesar de tudo o que já foi escrito, nada foi escrito. E assim, nós, poetas, seguimos, re-começando sempre a escrever a página em branco.




quando da procura nasce
a escuridão de tudo
desliza sobre o papel
a mão imaginária
perda de sentido
onde estréia o amanhã visível
na memória farta de nada
músicas ao vento
vão e retornam
fatalidades do mundo (avesso /aceso)
temporalidades escritas na página
ainda em branco
sempre em branco
convulsões escondidas no futuro presente
eletricidade no ar puro do amanhã cinzento
e a página em branco flutua
no começo de tudo
florilégios de um tempo ainda vigente
florilégios do tempo que se esvai
e que não é mais tempo
tempo de página em branco
onde o tempo não é nada

significação oscilante de vidas passadas
escondidas na brancura do papel
soluções inéditas
soluções soluçadas
na soleira do tempo
decisão sem tempo
recomendações a todos os que não foram citados
página em branco
esboço do livro letras minguam
no amanhã fértil de utilidades
públicas onde verte o dia de hoje
para o amanhã nunca mais
solução sem saída
iluminação sem suor contido
refeição trajada na esquina da vida

sou gesso e minha mão que não é
minha mão
corrige a sentença do livro
broto insignificante diante da página
em branco
certeza do ser que não é mais
a mão desliza
sobre a página em branco



© ana rossi






poème écrit le 06 mai 2008 dans la ville d’Avignon, France.
Ce poème se refère à l’acte d’écrire, éternel retour de la page blanche malgré tout ce qui a déjà été écrit, rien n’a été écrit. Et ainsi, nous, les poètes, nous allons, re-commençant toujours à écrire sur la page blanche.



lorsque de la quête naît
l’obscurité de tout
glisse sur la feuille
la main imaginaire
perte de sens
où surgit le lendemain visible
dans la mémoire grosse de rien
musiques au vent
vont et viennent
fatalités du monde (à l’envers / en éveil)
temporalités écrites sur la page
encore blanche
toujours blanche
convulsions cachées dans le futur présent
électricité dans l’air pur du matin grisâtre
et la page blanche flotte
au début de tout
florilèges d’un temps encore en vigueur
florilèges du temps qui s’en va
et qui n’est déjà plus le temps
temps de la page blanche
où le temps n’est rien

signification oscillante des vies d’antan
cachées dans la blancheur du papier
solutions inédites
solutions hoquetées
au seuil du temps
décision sans temps
souvenirs de tous ceux qui n’ont pas été nommés sur la
page blanche
ébauche du livre des lettres diminuent
dans le lendemain fertile d’utilités
publiques où se transforme le jour d’aujourd’hui
vers le lendemain plus jamais
solution sans issue
illumination sans sueur contenue
repas habillé au coin de la vie

je suis plâtre et ma main qui n’est pas
ma main
corrige la sentence du livre
bourgeon insignifiant face à la page
blanche
assurance de l’être qui n’est déjà plus
la main glisse
sur la page blanche


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