encantamento 12: joão donizete que matou sete / enchantement 12 : jean lunette qui tua sept

adaptação brasileira de um dos contos coletados pelos irmãos Grimm 
(final do século XVIII a meados do século XIX), 
cujo título é:
Das tapfere Schneiderlein
. 


em um reino distante, um sapateiro muito pobrezinho,
chamado joão donizete, fazia sapatos; todos achavam ele
um fracote; e sua barriga não parava de roncar de fome, ele
pegou um pedaçinho de queijo, e foi cozer mais um sapatinho.

as moscas pousaram no queijinho, e quando ele viu, com
uma única lambada, matou sete de uma vez; que sou fracote
nada! e ele escreveu com grandes letras bem visíveis em toda
a extensão do cinto, para ser visto: "joão donizete que matou sete"

e, com o pedacinho de queijo e um passarinho no bolso, joão
donizete que matou sete caiu no mundão, andando, andando;
na curva da estrada, encontrou um valentão, que leu o que estava
escrito no cinto; e para se exibir, pegou uma pedra, e esmagou-a

e desafiou joão donizete que matou sete; joão pegou o pedacinho de
queijo que trazia no bolso e esmagou-o até gotejar; não contente,
o valentão desafiou-o novamente, atirando uma pedra ao longe; mas
rápido no gatilho, joão tirou o passarinho do bolso, que voou longe;

o valentão, meio vesgo, não percebeu o que acontecera, e admirado,
convidou joão donizete que matou sete a dormir em sua cama ; mas
joão sentiu frio e dormiu encolhidinho num cantinho; altas horas da
madrugada, no meio da escuridão, o valentão bateu na cama,

e pensou ter matado joão donizete; no dia seguinte, quando joão
apareceu, o valentão fugiu gritando:"joão donizete que matou sete"
a notícia se espalhou pelo reino afora; o rei chamou-o, e prometeu
dar a filha em casamento se ele matasse os três gigantes maldosos;

joão donizete aceitou a proposta; e foi atrás dos gigantes com os bolsos
cheios de pedras; joão encontrou-os dormindo debaixo da árvore; ele
subiu na árvore e jogou a primeira pedra no nariz de um deles; ei, você!
lá vai um tabefe; o que foi? não fiz nada! depois se acalmaram e dormiram

joão donizete jogou outra pedra no nariz do gigante; aí, a confusão foi tanta
que eles acabaram por se matar; feliz, joão donizete voltou para ter a mão
da princesa; mas o rei impôs outra condição: matar o bicho de sete cabeças!
joão donizete bolou o plano, e encontrou o bicho na mata, e saiu correndo;

o bicho de sete cabeças correu atrás, irritado que só! e joão foi direto para
um castelo abandonado, e entrou pela porta, ligeirinho; o bicho quis entrar
também e ficou preso! e souberam que joão donizete que matou sete pegara o
bicho, e joão se casou com a princesa; mas ela descobriu sua profissão,

e o reio decidiu matá-lo à noite; mas joão donizete que matou sete ficou sabendo,
e naquela noite não dormiu, à espreita ; quando ouviu barulho na porta falou
grosso, e os soldados espantados com os feitos de joão donizete fugiram ; assim
joão donizete que matou sete se tornou um grande rei até o final da vida.


© Ana Rossi


dans un royaume distant, un très pauvre coordonnier
nommé jean lunette, cousait des chaussures; "chiffe-molle"
disait-on ; son ventre n'arrêtait pas de crier famine ; et pour
oublier, il prit un morceau de fromage et cousut encore

les mouches se posaient sur son fromage, et quand il les vit,
d'un seul coup, il en tua sept, "que nenni de nenni, suis
pas un faiblard!" et il écrivit sur tout le cuir de sa ceinture
en toutes grosses lettres : "jean lunette qui en tua sept"

et avec le morceau de fromage, et un oiseau dans la poche,
jean lunette que tua sept partit seul au monde, il marcha,
marcha, et au tournant d'une route rencontra un géant,
qui lit ce qu'il était écrit, et pour se comparer, écrasa une pierre;

et défia jean lunette qui tua sept; jean prit le morceau de
fromage de sa poche, et l´écrasa jusqu'à en retirer de l'eau; pas
content, le géant le défia à nouveau tirant une pierre au
loin; jean tira l'oiseau de sa poche, et celui-ci s'envola au loin;

le géant qui louchait, ne vit pas l'oiseau s'envoler, et tout plein
d'admiration invita jean lunette à dormir chez lui; mais jean eut
froid, et dormit recroquevillé dans un petit coin; au plus profond
de la nuit, le géant donna de gros coups sur l'énorme lit,

et il pensa avoir tué jean lunette; le lendemain, quand jean apparut,
le géant s'enfuit en criant: "jean lunette qui tua sept", et la
nouvelle se répandit dans tout le royaume; et le roi l'appella et lui
promit la main de sa fille s'il tuait les trois très méchants géants;

jean lunette accepta la proposition, et s'en alla chercher les géants
les poches pleines de pierres; jean les trouva dormant sous un arbre,
et grimpant dessus, il jeta la première pierre sur le nez d'un géant;
"eh toi!", et vlan! une claque; c'est quoi? j'ai rien fait! ils s'endormirent

jean lunette jetta une autre pierre sur le nez du géant; alors, ce fut une
telle confusion qu'ils s'entretuèrent ; et heureux, jean lunette revint au
palais pour avoir la main de la princesse; mais le roi imposa une nouvelle
condition: tuer la grosse méchant bête aux sept têtes! des soucis en vue!

il la trouva, et dès qu'elle le vit, elle lui courut après, très irritée! et jean fut
directement dans un château abandonné où il entra vite vite par la porte;
la bête voulut en faire de même, et la voilà prisonnière; au palais, jean se maria
avec la princesse, mais celle-ci apprit son métier ; le roi décide de le tuer;

mais jean lunette qui tua sept le sut, et cette même nuit ne dormit pas, aux
aguêts ; quand il entendit du bruit dehors, il sortit sa grosse voix, et les soldats
apeurés avec les aventures de jean lunette s'enfuirent; et ainsi, jean lunette
qui tua bien sept, et quelques autres, devint un grand roi jusqu'à la fin de sa vie.

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